Que tal?
A padronização da beleza não é um conceito atual. Na pré-história, a mulher devia ser gorda, seios fartos, sinal de fertilidade e prole bem gerada. Na Belle Époque, a silhueta em forma de ampulheta, com espartilhos feitos de ferro e barbatanas de baleia. Muda a época, muda o lugar. Mas a existência de um padrão continua.
Se hoje a gente se queixa de que a mídia e o próprio mundo fashion só valorizam o corpo perfeito, com seios fartos, quadris largos, pele clara, é hora de trazer os pés para a realidade e perceber o quão bela é a diversidade. Esse também vá lá não é exatamente um conceito novo. As grandes empresas já perceberam que o poder, afinal de contas, está com as chamadas “mulheres reais”.
Deixando todo o marketing à parte, o que fica é uma mensagem bacana. O fato é que padrões, instruções e certezas ditas absolutas continuam. Mas, o que serve para um, não serve para todos. Sábias são as palavras de Zeca Balero, que já alertava que esse velho e decadente mundo ainda não sabe admirar a beleza, “a beleza do erro, do engano, da imperfeição”. Palavras retiradas de uma música que, na verdade, é pura elegia ao natural, ao belo simples: “(...) sua beleza é bem maior do que qualquer beleza de qualquer salão”
Ideia confortável e ao mesmo tempo desafiadora: não estamos acostumados a perceber a beleza no diferente, no assimétrico, no estranho.
Ao mesmo tempo, o outro lado da história
Mas cá estamos nós, tão interessadas por moda e nos dizendo dispostas a “enfrentar” o padrão da beleza difundido atualmente.... Olhos abertos: o pulo do gato está em aceitar o que você não pode mudar e saber valorizar o que há de belo. Em suma: fazer dos defeitos, efeitos ;)
Cabe, então, citar o estudioso francês Charles Baudelaire. Ele via a mulher não apenas como a fêmea do homem. Ela é uma divindade, um reflexo de todos os encantos da natureza. Assim, tudo o que adorna a mulher, tudo que serve para realçar sua beleza e esconder as imperfeições, deve ser exaltado.
A mulher é, sem dúvida, uma luz, um olhar, um convite à felicidade, às vezes numa palavra: mas ela é, sobretudo, uma harmonia geral, não somente no seu porte e no movimento de seus membros, mas também nas musselinas, nas gazes, nas amplas e reverberantes nuvens de tecidos com que se envolve, que são como que os atributos e o pedestal de sua divindade.
“Sobre a Modernidade”, Baudelaire, 1997
Enfeitar-se, sentir-se belo é condição fundamental à própria condição humana. Não foi apenas para se proteger do frio ou para indicar status social e ostentar luxo que o ser humano usou e usa sua indumentária. Estar belo é, sim, importante para a relação social e para a auto-estima. Mas, reforçando o que foi dito acima, este é um conceito subjetivo. Depende do sujeito, da época, dos objetivos. Depende, principalmente, de estar bem consigo mesmo e de rever seus conceitos. Dia após dia ;)
Seu cabelo não cresce mais do que a altura dos ombros? Fica fraco, sem vida? Que tal um corte à la garçonne? A velha história das listras, (horizontais ou verticais?) também é outro exemplo sempre válido.
Utilize as tecnologias, as novidades, os estilos ao seu favor. O padrão engessa. Conhecimento e imaginação nos relembram como pode ser bom atravessar algumas fronteiras. Aproveite isso.
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